Arresolvi-me a prantar esta tarde más uma tradeçã da fala pretuguêsa pó algravio. É uma xtóirinha já intiga qu'é quaj certo c'amecêas conhecim e qu'ê fui-ma bscar ò Incursons.
Atã tomem lá per conta, a ver se leva jêto ou nã.
O RÊ VÁ DIM PLÃO
(xtóira tradecinal pretuguêsa)
Era uma vez um rê munte maniento e que gstava de andar tode impinocado.
Certo dia, achegaram-se ò pé dele dôs trafulhas que le fezeram esta cunversa:
- Mastade, a gente tem cnhecemente c'amecêa faz gosto im andar simpre luxuoso - nim há pai p'amecêa; e bem o murece! A gente fomes dar cum uma frapela munte benita e duma tal categoria cos brutos na sã capazes da ver. Cum uma vestementa dessas Vossa Mastade alcançará a dstinguir a famila esperta dos brutos, alarves e gazeados, que na hã-de prestar pa tar na corte d'amecêa.
- Ah, ma isse é uma escoberta qu'e um xpanto! - acudiu o rê. Tragam lá essa frapela e façam-me a vestementa; tou djando de ver a categoria de gente qu'ê tenhe ò mê sarviço.
Os dôs homes tirarem as medidas e, umas semanas despôs, apresentaram-se ò rê a dzer:
- Aqui tá a vestementa de Vossa Mastade.
O rê nã via nada, ma come nã queria passar por bruto, acudiu:
-Ah! Mete cobiça!
Atã, os dôs trafulhas fezérum de conta que no tavam a vestir, cum mesuras
e gabadelas:
- Amecêa tá tã bêm arrenjado! Todes ficarã à inveja!
Come na havia famila na corte que quezéssem ser levados de brutos, todes deziam ca vestementa era uma beleza. O rê até dava arge a um dês!
A notiça correu toda a cedade: o rê tinha uma farda que só os espertos tinham alcance pa ver.
Certo dia, o rê arresolvê-se a sair, mode s'amostrar à famila.
A famila toda gabava a vestementa, mode ninguém querer passar per bruto, inté que, a certa parte, um moçqueno, na sua inecêça, brádou:
-Olha, olha! O rê vá dim plão!
Foi um pagode! Carcachada giral. Só pr'essa ora é co rê le discorreu que le tinham armado a parte.
Inrrascado e repêso da sua asnidade, fugiu pa s'incafuar no paláiço.
[O Rei vai Nu
(Conto Tradicional Português)
Era uma vez um rei muito vaidoso e que gostava de andar muito bem vestido.
Um dia vieram ter com ele dois trapaceiros que lhe falaram assim:
- Majestade, sabemos que o senhor gosta de andar sempre muito bem vestido - bem vestido como ninguém; e bem o merece! Descobrimos um tecido muito belo e de tal qualidade que os tolos não são capazes de o ver. Com uma roupa assim Vossa Majestade poderá distinguir as pessoas inteligentes das tolas, parvas e estúpidas que não servirão para a vossa corte.
- Oh! Mas é uma descoberta espantosa! - respondeu o rei. Tragam já esse tecido e façam-me a roupa; quero ver as qualidades das pessoas que tenho ao meu serviço.
Os dois homens tiraram as medidas e, daí a umas semanas, apresentaram-se ao rei dizendo:
- Aqui está a roupa de Vossa Majestade.
O rei não via nada, mas como não queria passar por tolo, respondeu:
- Oh! Como é bela!
Então os dois aldrabões fizeram de conta qua estavam a vestir a roupa com todos os gestos necessários e exclamações elogiosas:
- O senhor fica tão elegante! Todos o invejarão!
Como ninguém da corte queria passar por tolo, todos diziam que a roupa era uma verdadeira maravilha. O rei até parecia um deus!
A notícia correu toda a cidade: o rei tinha uma roupa que só os inteligentes eram capazes de ver.
Um dia o rei resolveu sair para se mostrar ao povo. Toda a gente admirava a vestimenta, porque ninguém queria passar por estúpido, até que, a certa altura, uma criança, em toda a sua inocência, gritou:
- Olha, olha! O rei vai nu!
Foi um espanto! Gargalhada geral. Só então o rei compreendeu que fora enganado. Envergonhado e arrependido da sua vaidade, correu a esconder-se no palácio.]
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Obrigado por esta recuperação do nosso dialecto.
ResponderEliminarAo ler estas histórias lembro-me que era assim que os meus avós falavam. Estas marcas da nossa identidade vão-se perdendo.
... lamentavelmente.
Muito obrigado pelo seu contributo, João.
ResponderEliminarÉ verdade que a cultura oficial tem sempre uma tendência - que lhe é genética - para desconsiderar e destruir todas as formas de cultura paralelas, as quais considera rudes e inferiores. O grande problema é quando as pessoas que durante séculos desenvolveram e alimentaram a sua própria cultura (neste caso com expressão no falar), se deixam seduzir por aquela outra cultura "mainstream" e se envergonham das suas tradições e as renegam. Isto foi o que se passou durante os últimos 50 anos, no Algarve.
Contudo, considero que ainda nem tudo está perdido. Cabe-nos a nós mudar esse estado de coisas - rapidamente.
Eu tenho vindo a dar a minha parte para esse projecto maior, escrevendo regularmente neste blog. Outros pequenos gestos serão grandes, para uma causa que de outra forma estaria condenada a morrer. Agradeço-lhe a si, e aoutros que nos visitem, qualquer forma de colaboração: escrevendo, comentando ou promovendo as suas próprias iniciativas, as quais, tendo eu conhecimento, não deixarei de apoiar! A vós, algarvios com memória e esperança, o meu obrigado!
Quer dizer que o Hans Christian Andersen se inspirou nesta história (tradicional portuguesa) para escrever o seu conto? Não sabia... Isto é sempre a aprender!!!
ResponderEliminar