sábado, 26 de janeiro de 2013

Este na bateu do cu do burro


Oije, vou-ma contar uma parte ca famila más intiga usa a contar e que ê cude que se passou faz ele já munte tempo...

Há muntes anes, havia num monte um moçqueno munte rabalão. Certe dia, a mãe dê-le ordem de ir à vila, mode ir vinder uns cestinhos d'imprêta. O moçqueno levou o burro cos cestos e más uns figuinhos, mode im le dando griza ter quajquer cousita pa morfar plo caminho.

Abalou o moço más o burro, inda o sol mal xpontava, e foi pla chapada do cerro abaxo. Im chegado à varja, ia ele cantarolando uma modinha e alembra-se dos figuinhos que trazia nas aljebêras. Uns era más grados que outros, uns sariam más sadios e outros tariam murrinhosos. Ora, o moço, como inda na levava munta griza e era bicoso com o quemer, pranta-se a ravinhar dos figos. Tirou um ou otro que le agradou más e os outros ia jogando neles fora e dezia «este bateu do cu do burro, na presta!». Vai daí, más de metade dos figos dixou-os ele plo caminho, mode terem batido "do cu do burro"...

Passou-se o dia, o moçqueno lá na vila a fazer venda dos cestos... e condo se fez sol-pestinho vêo de volta po monte. Ma mostra co messinho na tinha quemido nada o dia intêro e vinha cuma griza que já nã aguintava más. Vai daí, quemeça ele a ver os figuinhos qu'ele tinha jgado fora plo caminho. Ó... Vá-se fazendo a boquinha im água e, às tantas, salta o moço do burro e pranta-se a panhar os figos do chão. Assoprava neles e dezia «Este na bateu do cu do burro» e morfava-os cum um gosto, c'até le sabia a xirém! Inté dixou o burro da mão, mode andar à pergunta dos figos, tal na era a griza que levava...

E assim foi. Inda oije, condo a famila dá parte de alguém ser bicoso, ma adespôs, im le dando a griza, já come de tudo sim ravinhar, usa-se a dezer «olha, esse na bateu do cu do burro!».

domingo, 5 de setembro de 2010

Rèclame ò nosse Algarve

A nha moça foi antredia dar cum este reclame e amostrou-mo. Ê achi-le planta, manêras c'arresolvi-ma dar agora de vaia àmecêas, premode se assomarem à ele tamém. Im 5 minutes eles amostrem à famila mode quê que amereça a pena xmintarem a vir ò nosse Algarve. Aspero que les dê tanto gosto im ver este vído, come ele me deu à mim.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A uma moça

Cume quim nace duma luzerna,
D'intremê dumas pernadas
Assomaste-te à nha vida,
Cum tuas manhas marafadas!

No açucre desses tês olhes
Dscuidado ê ma perdi:
Ando à pergunta e nã me acho
Pr'adonde ê olhe, só veje a ti.

O açucre fez-se im quêmóz…
E más gstoso ele era ainda!
Ingui im ti, jouguê-te d’unhas;
Nã dou notiça doutra más linda!

Nim tampouco ê drumo já,
Este rabêo nã dou vincido;
Desde a hora im que ê te vi,
Nã tiro de ti o sintido...

E é mode isso qu'ê só digo,
Sim pôr quajquer mania:
Nã há por i dnhuma igual,
Cume a moça algravia!


Antóino Rebêro

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Modinha pa moçquenes: BRUTAS ANDEM AS GALINHAS

Oije pranto aqui a tradeçã duma modinha já intiga pra moçquenes, qu'ê usava a cantar, condo era piquenalho e ela soava no tlevisor. Vâ-me lá a ver se ameceias tamém inda s'alembrem dela!




BRUTAS ANDEM AS GALINHAS

Brutas, brutas, brutas
Andem as galinhas,
Mode prantarem o ovo
Lá do buraquinhe.

Arraspam, arraspam, arraspam,
Mode alisarem a terra;
Espenicam, espenicam, espenicam
Mode fazerim o linho.

Impina a crista
o galo maniento,
Có-córó-có-có
Canta rabalão.

E tode inchade cum ar majtoso
É o comandante deste batalhã.
E tode inchade cum ar majtoso
É o comandante deste batalhã.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Recado de Boas Antradas

Aspero que ameceias nã se pareçam mal mode esta ósença tã demorada, ma é qu'ê nã tenhe même tido jêtes de cá vir. Mostra que já dôs saguidores se marafaram e me dêxarem da mão. É bim fêta, mode ê nã me barimbar niste. Vâme lá a ver so resto da famila nã abala tamém.

O caso é qu'ê m' impregui no iníço de Outubaro e cantinuo tamém a estudar nos livros, manêras que o tempe nã me dá à vonde... Ma fiquem ameceias xcansades qu'ê já ma pormeti e dora im diante faço tençõns de prantar aqui quajquer cousinha ò menes uma vez per mês.

Desejo a toda a famila qu' inda cá se vem assomar umas boas antradas pó ano que i vem, cum saudinha más alegia, que sim isso é que nã mereça a pena a gente cá andar!

Inté!!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Êgéno d' Andrade

Pranto aqui más uma tradeçã dum belo poeta pretuguês, o Êgéno d'Andrade.


Retrato im ala

Intre mê dos tês bêces
é que a brutidade acode,
desdéce ò garganhol,
devassa a água.

No tê pêto
É que o pólen do fogue
Se ajunta ò nacedio,
Alastra na àssombra.

Nas tuas curvas
É ca fonte dá im
Ri de abêlhas,
Rasmalhar de tígaro.

Da cintuira òs joêlhes
É ca arêa quêma,
O sol é amalhofado,
Cego o silênço.

Amalha-te más eu.
Alumia mês vidres.
Intre mê bêces más bêces
Toda a moda é mnha.

[Retrato ardente

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade]

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Musê Ragional do Algarve

Arresolvi-ma ir assomar-me esta tarde ò Musê Ragional do Algarve, im Faro - o Musê Etnográfico, cume eles o lévom. Ê tinha ide lá uma vez, condo era moçqueno, iste já há ele uns pouques d'anes, manêras que já na ma alimbrava de cousíssema denhuma. Cudim amecêas que nim tampouque dádonde se antrava sabia eu...

Aprviti, tá claro pa tirar per lá uns retratos. Ma cume nã trusse a máiquena fetegráfica nã fcou nada de jêto: tive que ma dsinrascar cum o telémovle. Im inde ê lá ôtra vez a prepósetes e cum más vagar, hê-de fazer melhor sarviço. Pranti aqui uma manchinha delas, ma iste é só premode amecêas terim uma idéa do que per lá se vê.

É um síto piquenalho ma munte bem injarocado, ádonde a famila pode incuntrar de tude, cume havia intigamente: carroças, albardas, piderocalhos, cântaros, cortiços, imprêtas, cêstos e quintás, rôpas e frapilhas cume se usava, casas à manêra da regiã, barcos e téquenecas de pesca e más uma remessa de outras bagajas que só im ver parece a gente que anda às arrécuas no tempe!

Ora, estas purmêras sã dum quarte algravio que eles lá montarem. Tá munte bêm fêto, nã haja duivda. Inté parece même de vardade!




Esta agora é da casa do fôgue. Inté prantaram uma velha lá de roda e tude!


O forno de quezer o panito.


Iste cude ê que seja o alpendre.


A venda, cum o tocador de consertina à antrada.




E a casa de Olhão, cum o pescador más a mulher de bioco.

domingo, 20 de setembro de 2009

ABALARÊ MÁS TU (CON TE PARTIRÒ)

Pranto aqui oije más uma tradeçã duma modinha qu'ê cude qu'amecêas quenhecim bem.
Há uns anes soava aí per tode o lado e a famila gabava munte o home. A moda é de Francesco Sartori, a pousia de Lucio Quarantotto e quim canta é Andrea Bocelli - qu'amecêas ã-de tar alimbrados - um home cego ma cum uma groja de arrepelar a gente.
Da modinha cude ê que amecêas gostim, agora vâme lá a ver sa tradeçã tamém dá arge a alguma cousa...




ABALARÊ MÁS TU

Condo tou só
Sonhe àdonde alcanço a ver
E mingam as palavras,
Sim, ê sê que nã há luz
Num quarto condo falt'ò sol,
Se nã nes vêjo tu más eu, tu más eu.
Assomada ò pestigo
Amostra à famila toda o mê coraçã
Que tu alumiaste,
Fêcha dentre de mim
A luz cum que foste dar aí na xtrada.

Abalarê más tu.
Terras qu'ê nunca
Havia viste e tado más tu,
Agora sim, as ê-de ê xmintar.
Abalarê más tu
Im navis per mares
Que ê sê,
Nã, nã, já nã existem,
Ê vou xmentá-los más tu.

Condo tás desviada de mim
Sonhe àdonde alcanço a ver
E mingam as palavras,
E sim, ê sê
Que tu tás más eu, más eu,
Tu nha lua, tu tás aqui más eu,
Mê sol, tu tás aqui más eu,
Más eu, más eu, más eu.

Abalarê más tu
Terras qu'ê nunca
Havia viste e tado más tu,
Agora sim, as ê-de ê xmintar.
Abalarê más tu
Im navis per mares
Que ê sê,
Nã, nã, já nã existem,
Ê vou reviver neles más tu.
Abalarê más tu
Im navis per mares
Que ê sê,
Nã, nã, já nã existem,
Ê vou reviver neles más tu.
Abalarê más tu.
Ê más tu.


[CON TE PARTIRÒ
F. Sartori / L. Quarantotto

Quando sono solo
Sogno all’orizzonte
E mancan le parole,
Si lo so che non c’è luce
In una stanza quando manca il sole,
Se non ci sei tu con me, con me.
Su le finestre
Mostra a tutti il mio cuore
Che hai acceso,
Chiudi dentro me
La luce che
Hai incontrato per strada.

Con te partirò.
Paesi che non ho mai
Veduto e vissuto con te,
Adesso si li vivrò,
Con te partirò
Su navi per mari
Che, io lo so,
No, no, non esistono più,
Con te io li vivrò.

Quando sei lontana
Sogno all’orizzonte
E mancan le parole,
E io sì lo so
Che sei con me, con me,
Tu mia luna tu sei qui con me,
Mio sole tu sei qui con me,
Con me, con me, con me.

Con te partirò.
Paesi che non ho mai
Veduto e vissuto con te,
Adesso si li vivrò.
Con te partirò
Su navi per mari
Che, io lo so,
No, no, non esistono più,
Con te io li rivivrò.
Con te partirò
Su navi per mari
Che, io lo so,
No, no, non esistono più,
Con te io li rivivrò.
Con te partirò.
Io con te.]

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

...E o Tiátaro cantinua!

Ora cá vai más um blego do tiátaro do Sô Mairo, que se amecêas tã alimbrados, ê comeci a prantar aqui no princípo de Julhe, e inda nã no di acabado. Calhando tamém inda na é desta. Cudo que levará inda más uma pagela... Béque-me a famila na tem ligado munta importâinça a iste, ma nã comprendo mode quê, ca xtóirinha inté leva jêtes...
Ora atã, àdonde é ca gente ia?


Héldaro - Ò mnha mãe, a gente trazémos ali uns pêxes qu'ê vou bscar pa amecêa amanhar.

D. Jaquina - Ò home! Atã tinhas alguma míngua de vir cá cum pêxe atrás?

Héldaro - Ê pensê co mê pai tevesse a dstilar e assim aprevitava-se e assava-se no forno da caldêra.

D. Jaquina - Este ano quaj que nã houve madronhos. Nã choveu.
E os pouques qu'ele panhou tá tude mirrado.

Ti Flezberto - Ê tava pinsando im dstilar uma manchinha deles despôs do mi-dia. Desse jêto, pode-se acinder já a caldêra e assa-se logue os pêxes po almoço. Bem visto, sim senhor.

(fica só a D. Jaquina a amanhar os pêxes e o Ti Flezberto a tratar do forno mode cozer o pão. Logue co pão teja no forno, ele vai-se imbora tamém)

- Bom, o panito já tá quezendo, vô-ma pó alminzém acinder a caldêra.

(Cunforme ia a sair, dá de ventas cum o carro da filha, a chegar)

- Olha, a nossa Casemira vem chegando.

D. Jaquina - O Edegairo vêo tamém?

Ti Flezberto - Ê só lá vêjo o gaieto.
Ai moço marafado! Cum que irá ele empencer desta vez?

D. Jaquina - Da últema vez que cá teve, soltou os bácros todes.
Da outra jogou cum o pato pa drento da ceterna. Só visto!

(Antra a mãe más o filho, a garrear)

Casemira - Já ta disse que nã tenho!
Vai mas é dar um bêjo à tua avó más ò tê avô.

(Fala ò pai)

Sérjo - Põs tamém na dô. (e fica de melão)



Casemira - Dêxa tar qu'ê logue digue ò tê pai.

(Fala à mãe)

D. Jaquina - Tás boa, filha?

Casemira - Ê tô. E amecêa, nha mãe?

D. Jaquina - Olha, praqui vô, mailo tê pai. Cada vez más velhotes.
Atã e o tê Edegairo? Nã vêo?

Sérjo - O mê pai tá de sarviço. Só vem à noite.

D. Jaquina - Ah, atã é per isse que vens tã rabalão...

Casemira - Ele ficou de vir cá ter. Vem na bceclete a motor.
Atã e o mê irmão? Qu'é dele?
Já vi o carro ali fora.

Ti Flezberto - Foram praí ver a bcharada.

Casemira - De quim é o outro transporte que tá ali fora?
Um cum matrícla francesa?

Ti Flezberto - É da Cesaltina do Antóino da Carriça.

Sérjo - Atão o Mathieu tá cá?

D. Jaquina - Ah, já falas? Venha já dar um bêjinho à sua avó.

(O Sérjo vai falar òs avoses)

Ti Flezberto - Assim é que é. (Abraça-o)
Anda já más eu e vames assomar-se ali àdonde eles tão.

(e vão ter cum os outres)

Casemira - Já na sei que faça a este moço.
Chego inté a pinsar que nã é mê filho.

D. Jaquina - Ai mãe santíssema! Nã digas uma cousa dessas, filha. Nim de veras, nim brincando. Atã que jêtes o moçqueno nã nã ser teu?

(Antra a Mari Benta)

Mari Benta - Adês Casemira. Tás boa, moça? (Falam-se)

Casemira - Olá, tia. Cume é que vai essa saúde?

Mari Benta - Olha, praqui vou indo, come Dês quer.
Dêxa-me lá ver s'o panito já tará cozido.

(Começa a tirar o pão do forno, inquante vão antrando os que tavam lá fora e falam à Casemira)


E prantes! A ver se tenho jêtes de vir cá outre dia, prantar más um padacinho.
Agora, per uns tempes sou capaz de nã ter vagar de passar per cá. Ma cude que, d'oije a quinze dias, já ha-de pingar cá más quajquer cousinha!
Inté, pessoal! Saudinha!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Vistas e pasajas do nosse Algarve

Oije, im lugar de lambareada, vou-ma prantar quatre vidos do Algarve. Ele amostram imajas duma remessa de sítos que sã uma beleza! Même im tandim essas cousas aqui ó rés da gente, a famila parte das vezes ou na quenhecim ou já na se alembrem... O purmêro, fui dar cum ele antredia no blogue Turismo Algarve , os outres andi ê à pregunta no iutube. Inda se vê por i munta maltinha a gabar a gente. Más, inté, ca famila da regiã... Ma ê cá na me dêxo jmorcer! Atã cá vai! Aspero que ves cunsole.







domingo, 16 de agosto de 2009

Pousia

Esta é a nha purmêra pousia im algravio. Arresolvi-me a xmentar tirar uns versos na nossa benita fala, a ver se isto dá arge a alguma cousa... Se desta vez na levar jêto, pa próxma melhor há-de fcar. É pciso é ir inçando.
Atã, vã-me lá a ver!



POUSIA PURMÊRA

Dou per mim, parte das vezes,
De rojo no mê soalho;
Tude à roda é tã grande
E ê vêje-me piquenalho.

Nã tenhe idéa ò que vou,
Nim tampouque de quim seja.
Ma ca rai face ê no mundo?
Viver dá-me im bretoeja...

Ninguém ma procurou nada,
Condo ma prantarem aqui.
Mode quê tarê ê, atã,
De fazer fenezas por i?

Atento assim o juízo
Inté quaj fcar tramouco;
Na se me desarreda da idéa
Que Dês anda a fazer pôco!

Intre mê tanta famila
Sará caso nã haver
Uma manchêa a dar-lhe rabeada
Más ê, mode este viver?

Condo a vida anda às abarcas
Ca té dá marafação,
Só aptece é arrulhar:
- Tá o mar fêto num cão!

Ma é nesta ladêra, à raboleta,
Que nes pedim pa andar;
Na ravinhem adespôs
Da famila só impar...

Cá pra mim, mêmo qu'ê cude
Qu'isto na leva sintido,
Na tenhe à vonde cum viver
Seja ou nã tempe perdido...

Antóino Rebêro

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O RÊ VÁ DIM PLÃO (O REI VAI NU)

Arresolvi-me a prantar esta tarde más uma tradeçã da fala pretuguêsa pó algravio. É uma xtóirinha já intiga qu'é quaj certo c'amecêas conhecim e qu'ê fui-ma bscar ò Incursons.
Atã tomem lá per conta, a ver se leva jêto ou nã.

O RÊ VÁ DIM PLÃO
(xtóira tradecinal pretuguêsa)

Era uma vez um rê munte maniento e que gstava de andar tode impinocado.
Certo dia, achegaram-se ò pé dele dôs trafulhas que le fezeram esta cunversa:
- Mastade, a gente tem cnhecemente c'amecêa faz gosto im andar simpre luxuoso - nim há pai p'amecêa; e bem o murece! A gente fomes dar cum uma frapela munte benita e duma tal categoria cos brutos na sã capazes da ver. Cum uma vestementa dessas Vossa Mastade alcançará a dstinguir a famila esperta dos brutos, alarves e gazeados, que na hã-de prestar pa tar na corte d'amecêa.
- Ah, ma isse é uma escoberta qu'e um xpanto! - acudiu o rê. Tragam lá essa frapela e façam-me a vestementa; tou djando de ver a categoria de gente qu'ê tenhe ò mê sarviço.
Os dôs homes tirarem as medidas e, umas semanas despôs, apresentaram-se ò rê a dzer:
- Aqui tá a vestementa de Vossa Mastade.
O rê nã via nada, ma come nã queria passar por bruto, acudiu:
-Ah! Mete cobiça!
Atã, os dôs trafulhas fezérum de conta que no tavam a vestir, cum mesuras
e gabadelas:
- Amecêa tá tã bêm arrenjado! Todes ficarã à inveja!
Come na havia famila na corte que quezéssem ser levados de brutos, todes deziam ca vestementa era uma beleza. O rê até dava arge a um dês!
A notiça correu toda a cedade: o rê tinha uma farda que só os espertos tinham alcance pa ver.
Certo dia, o rê arresolvê-se a sair, mode s'amostrar à famila.
A famila toda gabava a vestementa, mode ninguém querer passar per bruto, inté que, a certa parte, um moçqueno, na sua inecêça, brádou:
-Olha, olha! O rê vá dim plão!
Foi um pagode! Carcachada giral. Só pr'essa ora é co rê le discorreu que le tinham armado a parte.
Inrrascado e repêso da sua asnidade, fugiu pa s'incafuar no paláiço.


[O Rei vai Nu
(Conto Tradicional Português)

Era uma vez um rei muito vaidoso e que gostava de andar muito bem vestido.
Um dia vieram ter com ele dois trapaceiros que lhe falaram assim:
- Majestade, sabemos que o senhor gosta de andar sempre muito bem vestido - bem vestido como ninguém; e bem o merece! Descobrimos um tecido muito belo e de tal qualidade que os tolos não são capazes de o ver. Com uma roupa assim Vossa Majestade poderá distinguir as pessoas inteligentes das tolas, parvas e estúpidas que não servirão para a vossa corte.
- Oh! Mas é uma descoberta espantosa! - respondeu o rei. Tragam já esse tecido e façam-me a roupa; quero ver as qualidades das pessoas que tenho ao meu serviço.
Os dois homens tiraram as medidas e, daí a umas semanas, apresentaram-se ao rei dizendo:
- Aqui está a roupa de Vossa Majestade.
O rei não via nada, mas como não queria passar por tolo, respondeu:
- Oh! Como é bela!
Então os dois aldrabões fizeram de conta qua estavam a vestir a roupa com todos os gestos necessários e exclamações elogiosas:
- O senhor fica tão elegante! Todos o invejarão!
Como ninguém da corte queria passar por tolo, todos diziam que a roupa era uma verdadeira maravilha. O rei até parecia um deus!
A notícia correu toda a cidade: o rei tinha uma roupa que só os inteligentes eram capazes de ver.
Um dia o rei resolveu sair para se mostrar ao povo. Toda a gente admirava a vestimenta, porque ninguém queria passar por estúpido, até que, a certa altura, uma criança, em toda a sua inocência, gritou:
- Olha, olha! O rei vai nu!
Foi um espanto! Gargalhada geral. Só então o rei compreendeu que fora enganado. Envergonhado e arrependido da sua vaidade, correu a esconder-se no palácio.]