sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tiátaro Algravio (cantinação da parte d'antredia)

Acharum planta ó iniço da xtóirinha? Atão cá vai más um blego!

Soando uma modinha antram im cena as felhóses, a balhar. Neste pouco, a Mari Benta alevanta-se mode ir tender, tráz o candiêro na mã e dá de ventas ca cena.

(A Mari Benta fica uma cousa sim reacção, insovacada, e na faz más qu'é a binzer-se e dzer brutidades)

Mari Benta - Padre Filh Esprit Sante!
Má ca raio vêim estes dous olhes ca terra m' hade quemer?

(Avinça umas passadas e pranta im baxo o candiêro)

- Ai, valha-me Santa Barba!

(Manêa a cabeça)
(Antretanto o bacalhéu que tava de molho desata im balhar más as felhóses)

- Padre Filh Esprit Sante!
Valha-me Santa... (E xfalece)

(Cantinua o balho e na hora im que ela xperta, entra tamém o pirum a balhar e dá-lhe de vaia. Ela, escagaçada, benze-se antra vez)

- Padre Filh Esprit Sante.
Iste foi sol qu'ê panhi.
Ai Santíssme Sacramento. (Maneando a cabeça)

(joga d'unhas ó candiêro e sai, fugindo a bradar)

- Mana Jaquina! Mano Flezberto!

(Tornam todes ós sês lugares, a modinha acaba e antra o Antóino da Carriça, que já na vinha só, e vai a caminho das felhóses, pega numa e assanta-se a dar ó dente. Neste pouco assoma-se à cátela o Ti Flezberto im saroulas, de caçadêra nas mãs, más a Jaquina im camisa de dromir e a Mari Benta)

Ti Flezberto - Com qu'intã a balhar? Unde é que tá o balho?
Na vêjo nenhumas felhoses...

(Alevanta-se o Antóino da Carriça, que fala darrepente e lhes mete medo, pôs na no tinham visto, manêras que o Felzberto aponta a arma dreto a ele)

Antóino da Carriça - Ê cá só tou cmend' uma.
Aiii home! Dsarrede pa lá esse inredo q'ê nã goste de xpingardas. Prantes. S'ê nã poss cmer, nã como. (E pranta a felhó im baxo)

Ti Flezberto - Ahh! É amecêa que tá aí.

Antóino da Carriça - Pôs, quim más havera de ser?
Mecêas tã todes aí...

D. Jaquina - Amecêa tá aí sozinho?

Antóino da Carriça - Ê nã. Tou com mecêas.
Atão mecêas na tã aqui más eu?

(A Mari Benta vai-se assomar às felhoses, mode ver se elas tã no sê sito, e tamém o pirum. A D. Jaquina vai-se assomar ó bacalhéu a ver se tá unde el'ó dixou)

Mari Benta - Ai home. Amecêa andou outra vez a buber.

Ti Flezberto - Sabe, é ca mana Benta alevantou-se pra vir tender e quando aqui chigou apresenta-se-lhe o pirum balhando más o bacalhéu...

Antóino da Carriça - Atão e balhou tamém, ó cmade Benta? (e arri-se)

Mari Benta - Ê lhe digo se balhi! Ó rai do home!
Atã na lhe digo que vi?

(E amostra a parte cunforme se passou, inquanto o Antóino da Carriça vai fazendo mesuras de xpantamento à medida da xtóira)

- Cunforme ê cá abro a porta, vêje as felhoses balhando aqui,
Despôs vem o bacalhéu e balha tamém e despôs... dê-me uma cousa, caí...
Béque-me foi práqui. (e aponta)
Cunforme m'alevanto, vêje vir o pirum drêto a mim,
com o cuzinho a dar-a-dar... Ai Jasus!
Abali bradando per amecês (achega-se à Jaquina)
Ai que medo qu'ê panhi, mana.

(O Antóino da Carriça tira uma felhó, olha im dreçã a eles e procura:)

- Esta tamém antrou no balho?
Dêxa lá ver se ela balha bem. (e palma-a)

Mari Benta - Ó home d'um cabresto, o ca bubida le faz ó miolo.

Antóino da Carriça - Ora, pôs atão. Ê cá é qu'andi bubendo e a cmade Benta é que vê balhes de piruns despenados más bacalhéus e felhóses...

D. Jaquina - Ó mana. Isso calhando foi sol q'amecê panhou.
Ó Antóino, vaia lá panhar um raminho d'olevêra, qu'é pra ê binzer a mana da calma.

Antóino da Carriça - Benzá logo tamém do má fitio.

Mari Benta - Que dêcho tá ele dzendo?

D. Jaquina - Nã é nada mana. Vá, assante-se já aqui.

Ti Flezberto - Bom, ê cá vôma vestir, mode acinder o forno.

(O Antóino da Carriça volta co raminho d'olevêra e sai pra levar o rabanho po pasto. A D. Jaquina cmeça a bizedura:)

D. Jaquina - Jasus q'é o santo nome de Jasus
e adonde tá o santo nome de Jasus
na entra mal ninum.
Santa Iria alevantou-se
vesti-se e calçou-se, caminou,
cum S. Pedro e S. Palo se incantrou
e precuraram-lhe:
- Àdonde vás tu, Iria?
- Vou-ma Jirusalém, binzer o filho da Virge Maria
do golpe de sol e de todo o mal que lá havia
se ê sei, melhor sabe o filho da Virge Maria
dos doze apóstelos
às três pessoas da Santíssma Trindade.
Se é servido tirar esta calma,
este golpe de sol, deste corpo amoroso
um tindal e nove dobras
e um copo de água fria,
im louvor de Dês e da Virge Maria,
um padre nosso e uma avé Maria.

(ficam um poucachinho im silênço)

Vaia-se a dêtar, mana.
Prante-se lá boa prá Festa e dêxe q'ê cá já venho tinder.
Vô-ma só prantar outres trapos.

E pranto. Pr'esta nôte tem à vonde. Mas fiquim amecêas dscansados que ê hê-d cá vir prantar o resto! Venham-se assomando e boas algraviadas!

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