sexta-feira, 3 de julho de 2009

Tiátaro Algravio

Esta parte que ê vos vou a contar é uma xtóirinha de tiátaro co Máiro do mê ATL xcreveu pa gente rapresentar na consoada, quand ê era moçqueno. Aquilo foi a cousa más linda qu'ê inda nã vi! A famila dê-lhe tanta festa às larachas qu'a gente dezia... Mostra que os messinhos levaram tento, mode fazerim uma cousa cum jêto. Aspero que ameceias tamém lhe achim planta, meme sim tarim a ver: faça contas que tejem lá! Atão é assim:

(Inquanto a D. Jaquina frita as felhóses)

D. Jaquina - Atão mana! Inda falta munto?

Mari Benta - Nã mana. Já tá bem sevadinha.
Vou-ma só fezer o senal mode ver se fica bem levedada.



(Faz o senal da cruz na massa, diz a oraçanita e tapa cum a manta. Vai-se
a lavar, jogando as mãs às ancas e dezendo:)

- Ai mana, tou cumas dores nas cadêras...

D. Jaquina - Ó mana, amecêa já na tem idade pr'amassar...
Vaia-se más é a dêtar um poucachinho...

Mari Benta - Nã mana. O sê Flezberto já deve tar i a chigar cu pirum pa xcaldar.

D. Jaquina - E a água já ferve.

(Antra o Ti Flezberto cu pirum)

Ti Flezberto - Ah bich dum cabresto! Csti a dá-lo panhado, ma já le curti o garganhol! Ó mana Benta, traga lá a vasilha da água, mode a gente xcaldar o bich.

D. Jaquina - Ó home de Dês! Atã na vê ca mana tá descadêrada cum tanto amassar? Xcalde lá ameceia o pirum e dêxe a mlher da mão. Tá ali o alguidar. Na me diga que na dá conta do serviço?

(O Ti Flezberto vai xcaldar o pirum. Na rua soa aí um checalhar. É o
Antóino da Carriça, o moiral, que chega ó solpestinho co rabanho e vai amalhar o gado.)

Antóino da C. - Haja saúde!
Olha, a cmade Benta tem o assantadoiro todo lavajado. Dêxe cá ver qu'ê sacudo!

D. Jaquina - Tenha tent home de Dês!

Mari Benta - Cmade Benta o rai co parta! Arrade ma é pa lá essas unhas! Vá sacudir o sê gado. Nunca home d'nhum ma prantou as mãs no assantadoiro.

Ti Flezberto - Na se marafem, que na mereça a pena...

(Intretanto o Antóino da Carriça dá cum as felhoses e pranta-se a jêto de lhes jgar d'unhas)



Antóino da C. - Ah, ca belas felhoses!
tã diradas doiradinhas...
tá-me mêm àpetecer
ferrar-lhes umas dintadinhas...

Mari Benta - Tir-me daí essas unhas incardidas!
Essas felhoses sã pa nonte do nacemento.

(O Antóino da Carriça dá-lhe pa destapar as panelas e assomar-lhes pra dentro, à pregunta de cêa)

Antóino da C. - Atão, qu'é da cêa? Tou cá cuma griza... Um home chega a casa despôs de tant andar por i, nessa chapada, corg'abacho corg'acima e nã tem triste cousa pa tarrincar?

Ti Flezberto - Ó home, vem desinsofride? Ê mête-le já aí um traçalho de panito cum prasunte!

D. Jaquina - Olhe, aí im cima da mensa tem tamém uma tjala cum zêtonas britadas.

(O Antóino da Carriça pega no pão, corta o prasunte e assanta-se à mensa a monfar)

Mari Benta - Bom, ê cá voma dêtar q'amanhão tenhe que m'alevantar cedo pa tender.

Ti Flezberto - Ê cá já dêxi a lenha no forno. Amanhão é só dar-lhe fogo.
Ó mana Benta, alumie lá a famila que já nã se vê nada.

Mari Benta - O candêrito tará pitrol? (Sanquelêja e diz:)
Inda têm uma manchinha. Ond'é qu'ê pranti os forfes? (Acende e diz:)
Boa nonte e até amanhão. Fiquim-se cum Dês.

Todos - Boa nonte descansada.

(A Mari Benta vai-se a dêtar e o resto da famila cuntinua nos sês afazeres, tramelando.)

D. Jaquina - Ó Antóino, quando é que chega o sê pessoal?

Antóino da C. - A minha Cesaltina já abalou da França antes d'ontem. Vem de carro. Som capaz de chigar amanhão despôs do mi-dia.

Ti Flezberto - Atão e o Toino Zé?

Antóino da C. - Ó... esses vieram de cu tremide. Impataram um porradão de notas de conte! Abalaram no avião pra manhã, aí pr'essas 9 e ó mi-dia já tavam im Lesboa.

D. Jaquina - Ê cuidava que a Alemanha era más longe.

Antóino da C. - E é. Inda é uma boa lonjura. No tempe im que eles usavam a vir de carro na faziam a cousa pre menos de dôs dias. Mas agora mostra que se aquestemarem ó avião e fazim isto im três tempes. Im menes de nada eles se prantam aqui.

Ti Flezberto - Já viste, Jaquina... Três horas levava a gente im ir até à vila mode ir ao mercade!

D. Jaquina - Olá! Munta vez fiz ê esse caminho no carro de besta do mê pai, que Dês o perdôi. Até a pé chegi ê a fezer esse blego.

Antóino da C. - Pôs, aquilo os tempes eram outos. Isto agora tá tude munte avinçado.

D. Jaquina - Pormêro foram as bsecletas a motor, despôs os altemóveles, despôs más os combóis e agora sã os avions.

Ti Flezberto - Até diz ca famila já vai à lua. Nã sê come, mas que vã, vão.

(A D. Jaquina acaba de fritar as felhoses e cmeça a arrumar as cousas más o cmer pró otre dia)

D. Jaquina - Ai! Na me cunvidem pra andar nessas vias, qu'ê na proso. É só meter na ideia que vou de viagem, inda nim tou a cavalo e parece-me já qu'almareio. E despôs, começa-me a dar umas ainsas, mas duma manêra que daí pre diante é só grumitar, grumitar, até na ter más no bucho pa ditar fora.

Antóino da C. - A nha Itelvina, que Dês tem, tamém na prosava nada. Mostra que é cousa que vai na pessoa, ou na sê...

(O Ti Flizberto acaba de arrinjar o pirum e dá de vaia à mulher:)



Ti Flezberto - Jaquina, o pirum já tá amanhado. Pranta-lhe agora tu o timpêro.

D. Jaquina - Ai, hoje já na le mexo. Tou derreada.
Vô-ma só a prantar o bacalhéu de molho e vô-ma ditar.

Antóino da C. - Ê cá inda vô-me até à venda, jgar uma bisca. (sai)
Até amanhão.

Ti Flezberto - Ê cá vou-me tamém a dêtar. Boa nôte e até amanhão.

D. Jaquina - Boa nôte descansada.

(A D. Jaquina, despôs de dixar tude arrimado, vai-se tamém a dêtar)


Aspero que ameceias tejem a gstar. Assim qu'ê tver jêto pranto aqui más um blego.
Inté, pessoal!

1 comentário:

  1. Quim saria que dixou aqui um recado antredia? É que ê fiz aqui quajquer cousa e esta bagaja dê cabo do que aqui tinham prantado...

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