Béque-me oije inda nã no dou tode dxpaxado. Calhando pa semana ou despôs tará cumpleto. Aspero que amêas tejam a achar planta.
Inda esta smana ê me incuntri cum o artista que s'alimbrou de fazer esta parte, más os moçquenos. Já nã no via há uma remessa de tempe. Nim tampouque notiças ê tenhe tide. Na dê pa tramelar munte, ma ò menes dê pa dar-lhe uma manzaca e matar soidades. Fique agora à xpera co sô Mairo nes venha vesitar aqui ò blogue e aprevêto pa le agrdecer esta obra que nes dixou. Mode nã ter recebide inda comentáiros da famila, a respêto do tiátaro, na faço idéa se isto tá a ter saída ou nã...
Ma vâ-me lá a ver más um blego!
(Inquanto a Mari Benta trata das galinhas, soa um transporte a chigar e a D. Jaquina vai-se assomar à porta. É o filho da D. Jaquina que chigou más a famila e ela antra a fugir mode alimpar as mãs e a boca e a cumpor-se.)
D. Jaquina - Ai! É o mê Héldaro, maila nha Ercila e a nha Piedade. Tamém vieram passar a nonte do nacemento más a gente?
(O Héldaro, a Ercila e a Piedade falam cum pronuinça de Vila Real de Sante Antóino)
Piedade - Avó Quina! (Antra im casa e foge po pé da avó)
D. Jaquina - Ai! A nha Piedade! Tás tã grande, moça! (e abraça-a)
Ai, que soidades qu'ê tinha!
Héldaro - Dá lecença mnha mãe?
D. Jaquina - Ó home! A casa tamém é tua.
Antrem pa dentro. (e falam-se)
(A Ercila antra más a Mari Benta)
Ercila - Ó tia. Tem que levar más sintido cum a sua saúde.
(Fala à sogra)
D. Jaquina - Ai moça. Tás jêtosa.
Cada vez mai nova.
Mari Benta - É senal co nosse Héldaro a trata bem. Na é vardade?
Ercila (dande-lhe festa) - Lá isso, nã tenhe razãs de quêxa.
Héldaro - Atã e o mê pai? Qu'é fête dele?
Piedade - Ádonde é tá o avê Flezbeto?
D. Jaquina - Olha, foi praí à pregunta do Antóino da Carriça.
Chigou aí a filha que tá na França, más o home e o moçqueno e abalaram pr'essa chapada a ver se davum cum ele.
Ercila - A Cesaltina tá cá? Gstava da ver.
D. Jaquina - Atã calha bem. Eles vêm passar a festa más a gente.
Héldaro - O Antóino da Carriça inda tá cá em casa?
Foi desta que se ajêtou cum a tia?
Mari Benta - Ó rái! Bate já nessa boca, home!
Quere lá saber do velho...
D. Jaquina - O desgraçado bem que lhe anda simpre a arrastastar a asa, mas ela só o inxevalha...
Ercila - Pôs era mêmo o ca tia precisava.
Mari Benta - Dês ma livre! O home nã tem jêto nim trambelho. Simpre cum aquele bafo pingunço. Tótes, inté me dá anisas!
D. Jaquina - Ai! Tã simpre gravitando. (arria-se)
Inda onte à nonte a mana tava amassando e lavajou-se cum farinha, pôs atã na é co dêcho do home mal chigou prantou-se de roda da melher im querende-lhe sacudir o assantadoiro? Formou-se aqui um inlêo que só visto.
Piedade - Ó avó, o que é o assentadoiro?
Ercila - Ó filha, é o cu.
Eles aqui dizem assentadoiro.
D. Jaquina - Atão e estã manhão pegarem-se antra vez.
Ele inté me mandou binzê-la do má fitio.
A mana alevantou-se cedo, mode vir tender...
(Cantinuam a tramelar e a rir, mas más báxo, e cmeça a soar uma modinha im fundo, que fica inté que apareça o Ti Flezberto más a famila de emigrantes e o Antóino da Carriça. Os que inda nã se tinham ancuntrado falam-se e ficam tamém a cunversar).
Piedade - Tu és o Mathieu, não és?
Mathieu - Oui. Sou.
Et tu? Non me lembrrro do teu nome.
Piedade - Eu sou a Piedade.
Mathieu - Piedade? Que nome esse?
Piedade - Eu tamém não gosto muito.
Já foste ver os bacorinhos?
Mathieu - Bacorrrinhos? Que é isso?
Piedade - Tamém não sabes nada.
São os porquinhos pequeninos.
Mathieu - Ah, crrrias de cochons.
Nunca vi. Anda-me lá mostrrrarrr.
Piedade - Avô Flizberto, vou mostrar os bacorinhos ao Mathieu.
Cesaltina - Ai, eu também quero ir ver!
Ercila - Contos é ca porca teve?
Ti Flezberto - Pariu douze, mas morrerem três.
Antóino da C. - Atão vams lá todes ver a bxarada.
Ande já tamém, cmade Benta.
Mari Benta - Oh home! Na m'atente a miolêra.
Vaia-se já e dêxe-se fcar pulá, que na pcilga é qu'amecêa tá bem.
(Cmeçam a sair)
D. Jaquina - Ai estes dôs.
Se calha algum dia a fcarém praqui sozinhes, esconfi que se xfolam um ò outre...
Ti Flezberto - Bom, ê vou-ma alimpar o forno, qu'e pa prantar o pã a quezer. (e vai tratar do forno)
sexta-feira, 31 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Pousia do Camons
Oije alimbrê-me de prantar aqui uma pousia do Camons. Vou-ma ver se faço a feneza de dar corridos parte dos poetas pertegueses más gabades. Ê ande a tmar per conta pa na marafar a métrica más as rimas, mode na dixar as pousias de pantanas, senã perde a planta toda. Ah pôrça! Ma nim simpre é ò queres, manêras que levo inda bem munte tempe aqui a matinar e a azucrinar o tatuço. Trabalho cum dôs dcionáiros de algravio e más a limbrança qu'ê tenhe da nha fala de moçqueno, cos mês avozes m'insinarem. Ma nim même assim ê me amanho más dpressa, nim o raio...
Vá lá, tem à vonde cum impar, qu'ê cuido qu' amecêas querim é lêr pousia!
Ora, atã é assim:
Sete anes de moiral Jacob sarvia
Labão, pai de Raquel, sarrenha bela;
Ma nã sarvia ò pai, sarvia a ela,
E a ela só per cunvidade queria.
Os dias, co sintido num só dia,
Passava, cunsolande-se im vê-la;
Agora o pai, usande de cátela,
Im lugar de Raquel le dava Lia.
Im vende o dsmarride moiral que desse jêto
Cum inganifas le negarem a sua moirala,
Come se nã a tvera murcida,
Joga-se a sarvir más sete anes,
Dezende: más sarviria, nã fosse
Pra tã longue amor tã curta a vida!
[Im pretuguês
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
- Luís Vaz de Camões]
Vá lá, tem à vonde cum impar, qu'ê cuido qu' amecêas querim é lêr pousia!
Ora, atã é assim:
Sete anes de moiral Jacob sarvia
Labão, pai de Raquel, sarrenha bela;
Ma nã sarvia ò pai, sarvia a ela,
E a ela só per cunvidade queria.
Os dias, co sintido num só dia,
Passava, cunsolande-se im vê-la;
Agora o pai, usande de cátela,
Im lugar de Raquel le dava Lia.
Im vende o dsmarride moiral que desse jêto
Cum inganifas le negarem a sua moirala,
Come se nã a tvera murcida,
Joga-se a sarvir más sete anes,
Dezende: más sarviria, nã fosse
Pra tã longue amor tã curta a vida!
[Im pretuguês
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
- Luís Vaz de Camões]
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Élves im algravio
Esta nôte, vou-ma prantar uma modinha do artista amaricano Élves Présli (1935-1977), cum tradeçã im algravio. Ouve e inda há por i famila a levá-lo de rê, e na é sim razã: ca bela groja co home pussiía!
Simpre na nha idéa
Calhando ê na te xtimi
Tã bem come ê havia de ter fêto
Calhando ê na t'amê
Toda a vez q'ê tive jêtes
Cousinhas havia ê de ter falado e fêto
Só que logue ê na me ópus
Tu ias simpre na nha idéa
Tu ias simpre na nha idéa
Calhando ê na te sustive
Im todes esses tempes slitáiros
E béque-me ê nunca ta disse
Tou tã repimpado de seres minha
S'ê te sjiti a sintirs-te o rafugo
Moça, ê tou tã repeso, ê andava cego
Tu ias simpre na nha idéa
Tu ias simpre na nha idéa
Diz-me, diz-me co tê amor doce na se desluziu
Dá-me, dá-me más uma ocasiã
A ver s'ê te consolo, s'ê te consolo
Cousinhas havia ê de ter falado e fêto
Só que logue ê na me ópus
Tu ias simpre na nha idéa
Tu vás simpre na nha idéa
Tu vás simpre na nha idéa
[Na fala englesa
Always on my mind
Maybe I didnt treat you
Quite as good as I should have
Maybe I didnt love you
Quite as often as I could have
Little things I should have said and done
I just never took the time
You were always on my mind
You were always on my mind
Maybe I didnt hold you
All those lonely, lonely times
And I guess I never told you
Im so happy that youre mine
If I make you feel second best
Girl, Im so sorry I was blind
You were always on my mind
You were always on my mind
Tell me, tell me that your sweet love hasnt died
Give me, give me one more chance
To keep you satisfied, satisfied
Little things I should have said and done
I just never took the time
You were always on my mind
You are always on my mind
You are always on my mind
- Elvis Presley]
Simpre na nha idéa
Calhando ê na te xtimi
Tã bem come ê havia de ter fêto
Calhando ê na t'amê
Toda a vez q'ê tive jêtes
Cousinhas havia ê de ter falado e fêto
Só que logue ê na me ópus
Tu ias simpre na nha idéa
Tu ias simpre na nha idéa
Calhando ê na te sustive
Im todes esses tempes slitáiros
E béque-me ê nunca ta disse
Tou tã repimpado de seres minha
S'ê te sjiti a sintirs-te o rafugo
Moça, ê tou tã repeso, ê andava cego
Tu ias simpre na nha idéa
Tu ias simpre na nha idéa
Diz-me, diz-me co tê amor doce na se desluziu
Dá-me, dá-me más uma ocasiã
A ver s'ê te consolo, s'ê te consolo
Cousinhas havia ê de ter falado e fêto
Só que logue ê na me ópus
Tu ias simpre na nha idéa
Tu vás simpre na nha idéa
Tu vás simpre na nha idéa
[Na fala englesa
Always on my mind
Maybe I didnt treat you
Quite as good as I should have
Maybe I didnt love you
Quite as often as I could have
Little things I should have said and done
I just never took the time
You were always on my mind
You were always on my mind
Maybe I didnt hold you
All those lonely, lonely times
And I guess I never told you
Im so happy that youre mine
If I make you feel second best
Girl, Im so sorry I was blind
You were always on my mind
You were always on my mind
Tell me, tell me that your sweet love hasnt died
Give me, give me one more chance
To keep you satisfied, satisfied
Little things I should have said and done
I just never took the time
You were always on my mind
You are always on my mind
You are always on my mind
- Elvis Presley]
terça-feira, 21 de julho de 2009
Tiátaro Algravio - trecêra pagela
Pra quim só agora deu notiça do Algravio, fiquim sabendo qu'esta é já a trecêra pagela duma xtóirinha de tiátaro qu'ê comeci a cuntar antredia. Na sou ê o artista, ê sou só o contador. Ela foi xcrita plo Sô Máiro. Mas pode ser que aqui ou ali ê ponha tamém um chêrinho. Qu'isto é sabido que quim conta uma parte, acresçanta-lhe da sua arte. Atão vams lá a más um blego!
(Antra o Ti Flezberto, já cum outra vestementa, que vem aprontar o forno mode cozer o pão, e sai a D. Jaquina)
Ti Flezberto - Atão, já tá melhor?
Mari Benta - Ai mano Flezberto. Pró que m'havera de dar...
Ti Flezberto - Ó mana, mas amecê presenciou mêmo esse balho?
Mari Benta - Cum estes dous olhes ca terra m'hade quemer. Inté me fui assomar pa dentro da plingana e tude, e vi. As felhoses pulavam da plingana pra fora e balhavam, balhavam...
Ti Flezberto - Ó mana, isse na terá sido im sonho?
Mari Benta - Ê si cá!
(Antra a D. Jaquina, já vestida, que vem tender)
D. Jaquina - Inda aí tá? Vaia-se lá dêtar. Daquem nada ta aí a famila toda e amecêa inda na se pôs boa.
(A dona Jaquina joga-se a tender e o Ti Flezberto vai acinder o forno mode cozer o pão. Inquanto vai tendendo a D. Jaquina canta uma modinha d'intigamente.
É intarrumpida pro Ti Flezberto, que já tem o forno a aquecer e le diz:)
Ti Flezberto - Dixi o barredoiro inquestado ó pial, toma per conta, na le incalhes.
Bom, vou-ma dar de quemer ós porcos.
D. Jaquina - Tá bem. O balde cum a água lexosa tá aí imbaxo da pia.
Pranta uma ametade naquela vasilha qu'é prós bacrinhes.
Ti Flezberto - Tá bem assim? (e amostra)
D. Jaquina - Tá. Na raçã da marranita nã mereça a pena prantar tanto farelo.
Ti Flezberto - Atã vê lá. (Vai prantando más farelos)
D. Jaquina - Tem ávonde! Isse nã é pra nenhum sovão!
(O Ti Flezberto sai más os baldes e a D. Jaquina cantinua a modinha inquanto vai tendendo)
(Condo acaba de tender arruma a ócharia e vai-se alavar. Neste tempe, antra o Ti Flezberto que assilha os baldes dádonde eles tavam. Logue despôs antra a filha do Antóino da Carriça más o home e o moçqueno dela, que acabam de chegar da França)
Ti Flezberto - Antrem. Venham pra casa.
Ó Jaquina! Olha só quim chegou!
D. Jaquina - Ai! A Cesaltina! (Falam-se)
Mas há contes anes ê na te via!
Tás jêtosa, moça!
Cesaltina - Oh! É a D. Jaquina?
Quaj que nim a conhecia. Ta cada vez más nova!
D. Jaquina - Atão esse aí é o tê home?
Cesaltina - Vá lá. É o mê marido e o mê filho. (falam-se támem)
D. Jaquina - Ai, com'ó tempe passa.
A últema vez que te vi foi num dia de mercado.
Era o tê gaiato pequenalho e agora tá um home fêto.
Francisco - Então e o meu sogro?
O que é feito dele?
Ti Flezberto - Tá guardando o gado na chapada pre trás do monte.
Ê vou lá dar-le de vaia.
Francisco - A gente vai consigo que é pra ver se esticamos as pernas.
Estamos fartos de estar sentados.
D. Jaquina - Atão fezeram boa viagem?
Cesaltina - Sim, fezémes.
Isto agora já se faz más depressa.
Entra-se logue lá na auto-rute e é munte más rápido.
Ti Flezberto - Bom, vame lá a ver se a gente dá cum o Antóino.
(O Ti Flezberto sai más o casal de emigrantes e o garoto, à pregunta do Antóino. Antretanto, a Mari Benta deu pla chegada de pessoal e antra na casa do fogo pra ver quim chegou. A D. Jaquina cantinua a aquemedar os tarecos.)
Mari Benta - Ê tava ditada e óvi cunversar.
Quim é que tava aqui más amecêa, mana?
D. Jaquina - Era a Cesaltina, que chigou da França, más o maride e o filhe.
Mari Benta - Atã e já abalaram? (e vai-se assomar ó pestigo)
D. Jaquina - Nã. Foram só ver se davam cum o Antóino.
E amecêa? Já vai tando melhorzita?
Mari Benta - Béque-me isto já vai passando.
Já tou um nadinha melhor.
Já soltarum as galinhas?
D. Jaquina - Inda nã às ouvi.
Calhando inda tã presas.
Mari Benta - Ê vou-ma ver.
Levo uma manchinha de sovada e ficum logue tratadas.
D. Jaquina - Veja lá, mana. Na se prante prái munte ó sol.
(A Mari Benta sai e passado um pouque soam as galinhas e a Mari Benta a chamar.)
Mari Benta - Piiiii pi pi pi piiita, piita pita pita pita!...
Per oije fcames por aqui. Na perquem a cantinação.
Inté, pessoal!
(Antra o Ti Flezberto, já cum outra vestementa, que vem aprontar o forno mode cozer o pão, e sai a D. Jaquina)
Ti Flezberto - Atão, já tá melhor?
Mari Benta - Ai mano Flezberto. Pró que m'havera de dar...
Ti Flezberto - Ó mana, mas amecê presenciou mêmo esse balho?
Mari Benta - Cum estes dous olhes ca terra m'hade quemer. Inté me fui assomar pa dentro da plingana e tude, e vi. As felhoses pulavam da plingana pra fora e balhavam, balhavam...
Ti Flezberto - Ó mana, isse na terá sido im sonho?
Mari Benta - Ê si cá!
(Antra a D. Jaquina, já vestida, que vem tender)
D. Jaquina - Inda aí tá? Vaia-se lá dêtar. Daquem nada ta aí a famila toda e amecêa inda na se pôs boa.
(A dona Jaquina joga-se a tender e o Ti Flezberto vai acinder o forno mode cozer o pão. Inquanto vai tendendo a D. Jaquina canta uma modinha d'intigamente.
É intarrumpida pro Ti Flezberto, que já tem o forno a aquecer e le diz:)
Ti Flezberto - Dixi o barredoiro inquestado ó pial, toma per conta, na le incalhes.
Bom, vou-ma dar de quemer ós porcos.
D. Jaquina - Tá bem. O balde cum a água lexosa tá aí imbaxo da pia.
Pranta uma ametade naquela vasilha qu'é prós bacrinhes.
Ti Flezberto - Tá bem assim? (e amostra)
D. Jaquina - Tá. Na raçã da marranita nã mereça a pena prantar tanto farelo.
Ti Flezberto - Atã vê lá. (Vai prantando más farelos)
D. Jaquina - Tem ávonde! Isse nã é pra nenhum sovão!
(O Ti Flezberto sai más os baldes e a D. Jaquina cantinua a modinha inquanto vai tendendo)
(Condo acaba de tender arruma a ócharia e vai-se alavar. Neste tempe, antra o Ti Flezberto que assilha os baldes dádonde eles tavam. Logue despôs antra a filha do Antóino da Carriça más o home e o moçqueno dela, que acabam de chegar da França)
Ti Flezberto - Antrem. Venham pra casa.
Ó Jaquina! Olha só quim chegou!
D. Jaquina - Ai! A Cesaltina! (Falam-se)
Mas há contes anes ê na te via!
Tás jêtosa, moça!
Cesaltina - Oh! É a D. Jaquina?
Quaj que nim a conhecia. Ta cada vez más nova!
D. Jaquina - Atão esse aí é o tê home?
Cesaltina - Vá lá. É o mê marido e o mê filho. (falam-se támem)
D. Jaquina - Ai, com'ó tempe passa.
A últema vez que te vi foi num dia de mercado.
Era o tê gaiato pequenalho e agora tá um home fêto.
Francisco - Então e o meu sogro?
O que é feito dele?
Ti Flezberto - Tá guardando o gado na chapada pre trás do monte.
Ê vou lá dar-le de vaia.
Francisco - A gente vai consigo que é pra ver se esticamos as pernas.
Estamos fartos de estar sentados.
D. Jaquina - Atão fezeram boa viagem?
Cesaltina - Sim, fezémes.
Isto agora já se faz más depressa.
Entra-se logue lá na auto-rute e é munte más rápido.
Ti Flezberto - Bom, vame lá a ver se a gente dá cum o Antóino.
(O Ti Flezberto sai más o casal de emigrantes e o garoto, à pregunta do Antóino. Antretanto, a Mari Benta deu pla chegada de pessoal e antra na casa do fogo pra ver quim chegou. A D. Jaquina cantinua a aquemedar os tarecos.)
Mari Benta - Ê tava ditada e óvi cunversar.
Quim é que tava aqui más amecêa, mana?
D. Jaquina - Era a Cesaltina, que chigou da França, más o maride e o filhe.
Mari Benta - Atã e já abalaram? (e vai-se assomar ó pestigo)
D. Jaquina - Nã. Foram só ver se davam cum o Antóino.
E amecêa? Já vai tando melhorzita?
Mari Benta - Béque-me isto já vai passando.
Já tou um nadinha melhor.
Já soltarum as galinhas?
D. Jaquina - Inda nã às ouvi.
Calhando inda tã presas.
Mari Benta - Ê vou-ma ver.
Levo uma manchinha de sovada e ficum logue tratadas.
D. Jaquina - Veja lá, mana. Na se prante prái munte ó sol.
(A Mari Benta sai e passado um pouque soam as galinhas e a Mari Benta a chamar.)
Mari Benta - Piiiii pi pi pi piiita, piita pita pita pita!...
Per oije fcames por aqui. Na perquem a cantinação.
Inté, pessoal!
sábado, 18 de julho de 2009
Fica pormetide que, im ê tende jêtes, o purmêro post que ê vou-ma prantar é a cantinação do tiatro, mode ver se iste na fica pr'aqui amarroado... Amanhão ou despôs na si se tarê vagar, mas fiquim ameceias xcansados que, na tande ê praí tramouco, na me ê-de xquecer.
Faço tamém tençãs de ter aqui no blog pousias ragionais. Na dexim de vir cá de condo im vez, que ós poucachinhos isto vai informande. Inté!
Faço tamém tençãs de ter aqui no blog pousias ragionais. Na dexim de vir cá de condo im vez, que ós poucachinhos isto vai informande. Inté!
Ria Formosa
Oije amostro aqui um dos sitos más cobiçados e ausioses da nossa terra: o parque natural da Ria Formosa. Prá famila que inda na quenhece, é da manêra que ficum cuma idéa, ma na dexim de vesitar, que isto im a gente se assomando de perto é outra cousa! Pra quim já quenhece, béque-me vã achar planta ó que ê aqui pranti. Inté!
Pa fcarim sabendo más um poucachinho a respêto do parque natural vaiam a estes links:
- http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007-AP-RiaFormosa?res=1024x768
- http://www.olhao.web.pt/ParqueNatural.htm
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Ria_Formosa
Pa fcarim sabendo más um poucachinho a respêto do parque natural vaiam a estes links:
- http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007-AP-RiaFormosa?res=1024x768
- http://www.olhao.web.pt/ParqueNatural.htm
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Ria_Formosa
quinta-feira, 16 de julho de 2009
O Gadanêro
Esta nôte, ò assomar-me no blog do mê Pressor Amadê Frrêra, o "cumo quien bai de camino", im mirandês, vê-me à ideia quemeçar a tradezir peças más gradas. E pegui logue nesta pousia do Alberto Caêro, qu'amecêas bem quenhecim. Sã uns versos munte bem tirados. Vams lá a ver s'ê tou capaz de dar conta do recado!
O Gadanêro XXXIV
Ache tã natural que nã se pinse
Que ma pranto a rir parte das vezes, sozinho,
Na si bem de quê, mas é de quajquer cousa
Que tim à ver cum haver famila que pinsa...
Que cuidará o mê valado da nha ássombra?
Procuro-me parte das vezes isto inté dar per mim
A procurar-me cousas...
E atão desengraço-me, inquemode-me
Come se me panhásse cum pé cum formeguêro...
Que cuidará isto daquilo?
Nada pinsa im nada.
Tará a terra cunscênça dos bajoles e plantas que tem?
Se ela tever, ca tenha...
Qu'é que m'amporta isse à mim?
S'ê fosse a pinsar nessas cousas,
Dixava de ver as árves más as plantas
E dixava de ver a Terra,
Mode ver só os mês pinsamentes...
Jmorcia e fcava à dscuras.
De manêras que, sim pinsar, tenhe a Terra más o Céu.
[Im pretuguês
O Guardador de Rebanhos XXXIV
Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa…
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas…
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente…
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa em nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela tiver, que tenha…
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixava de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos…
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.
-Alberto Caeiro]
O Gadanêro XXXIV
Ache tã natural que nã se pinse
Que ma pranto a rir parte das vezes, sozinho,
Na si bem de quê, mas é de quajquer cousa
Que tim à ver cum haver famila que pinsa...
Que cuidará o mê valado da nha ássombra?
Procuro-me parte das vezes isto inté dar per mim
A procurar-me cousas...
E atão desengraço-me, inquemode-me
Come se me panhásse cum pé cum formeguêro...
Que cuidará isto daquilo?
Nada pinsa im nada.
Tará a terra cunscênça dos bajoles e plantas que tem?
Se ela tever, ca tenha...
Qu'é que m'amporta isse à mim?
S'ê fosse a pinsar nessas cousas,
Dixava de ver as árves más as plantas
E dixava de ver a Terra,
Mode ver só os mês pinsamentes...
Jmorcia e fcava à dscuras.
De manêras que, sim pinsar, tenhe a Terra más o Céu.
[Im pretuguês
O Guardador de Rebanhos XXXIV
Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa…
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas…
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente…
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa em nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela tiver, que tenha…
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixava de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos…
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.
-Alberto Caeiro]
ALGARVE ALGARVE ALGARVE
O nosse blog faz oije um mês!! Um mês a dar de vaia à famila pr'àquilo ca gente tem de melhor: a nossa queltura ragional. A cousa tem prozado e ê aspero que assim se cunserve per munte tempe!
O mê agradcemente a todes os que nes têim vinde vesitar nesta temprada e se têm assomado a estas partes qu'ê aqui tenho prantado.
Inté, pessoal!
quarta-feira, 15 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
Faro Intigamente
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Tiátaro Algravio (cantinação da parte d'antredia)
Acharum planta ó iniço da xtóirinha? Atão cá vai más um blego!
Soando uma modinha antram im cena as felhóses, a balhar. Neste pouco, a Mari Benta alevanta-se mode ir tender, tráz o candiêro na mã e dá de ventas ca cena.
(A Mari Benta fica uma cousa sim reacção, insovacada, e na faz más qu'é a binzer-se e dzer brutidades)
Mari Benta - Padre Filh Esprit Sante!
Má ca raio vêim estes dous olhes ca terra m' hade quemer?
(Avinça umas passadas e pranta im baxo o candiêro)
- Ai, valha-me Santa Barba!
(Manêa a cabeça)
(Antretanto o bacalhéu que tava de molho desata im balhar más as felhóses)
- Padre Filh Esprit Sante!
Valha-me Santa... (E xfalece)
(Cantinua o balho e na hora im que ela xperta, entra tamém o pirum a balhar e dá-lhe de vaia. Ela, escagaçada, benze-se antra vez)
- Padre Filh Esprit Sante.
Iste foi sol qu'ê panhi.
Ai Santíssme Sacramento. (Maneando a cabeça)
(joga d'unhas ó candiêro e sai, fugindo a bradar)
- Mana Jaquina! Mano Flezberto!
(Tornam todes ós sês lugares, a modinha acaba e antra o Antóino da Carriça, que já na vinha só, e vai a caminho das felhóses, pega numa e assanta-se a dar ó dente. Neste pouco assoma-se à cátela o Ti Flezberto im saroulas, de caçadêra nas mãs, más a Jaquina im camisa de dromir e a Mari Benta)
Ti Flezberto - Com qu'intã a balhar? Unde é que tá o balho?
Na vêjo nenhumas felhoses...
(Alevanta-se o Antóino da Carriça, que fala darrepente e lhes mete medo, pôs na no tinham visto, manêras que o Felzberto aponta a arma dreto a ele)
Antóino da Carriça - Ê cá só tou cmend' uma.
Aiii home! Dsarrede pa lá esse inredo q'ê nã goste de xpingardas. Prantes. S'ê nã poss cmer, nã como. (E pranta a felhó im baxo)
Ti Flezberto - Ahh! É amecêa que tá aí.
Antóino da Carriça - Pôs, quim más havera de ser?
Mecêas tã todes aí...
D. Jaquina - Amecêa tá aí sozinho?
Antóino da Carriça - Ê nã. Tou com mecêas.
Atão mecêas na tã aqui más eu?
(A Mari Benta vai-se assomar às felhoses, mode ver se elas tã no sê sito, e tamém o pirum. A D. Jaquina vai-se assomar ó bacalhéu a ver se tá unde el'ó dixou)
Mari Benta - Ai home. Amecêa andou outra vez a buber.
Ti Flezberto - Sabe, é ca mana Benta alevantou-se pra vir tender e quando aqui chigou apresenta-se-lhe o pirum balhando más o bacalhéu...
Antóino da Carriça - Atão e balhou tamém, ó cmade Benta? (e arri-se)
Mari Benta - Ê lhe digo se balhi! Ó rai do home!
Atã na lhe digo que vi?
(E amostra a parte cunforme se passou, inquanto o Antóino da Carriça vai fazendo mesuras de xpantamento à medida da xtóira)
- Cunforme ê cá abro a porta, vêje as felhoses balhando aqui,
Despôs vem o bacalhéu e balha tamém e despôs... dê-me uma cousa, caí...
Béque-me foi práqui. (e aponta)
Cunforme m'alevanto, vêje vir o pirum drêto a mim,
com o cuzinho a dar-a-dar... Ai Jasus!
Abali bradando per amecês (achega-se à Jaquina)
Ai que medo qu'ê panhi, mana.
(O Antóino da Carriça tira uma felhó, olha im dreçã a eles e procura:)
- Esta tamém antrou no balho?
Dêxa lá ver se ela balha bem. (e palma-a)
Mari Benta - Ó home d'um cabresto, o ca bubida le faz ó miolo.
Antóino da Carriça - Ora, pôs atão. Ê cá é qu'andi bubendo e a cmade Benta é que vê balhes de piruns despenados más bacalhéus e felhóses...
D. Jaquina - Ó mana. Isso calhando foi sol q'amecê panhou.
Ó Antóino, vaia lá panhar um raminho d'olevêra, qu'é pra ê binzer a mana da calma.
Antóino da Carriça - Benzá logo tamém do má fitio.
Mari Benta - Que dêcho tá ele dzendo?
D. Jaquina - Nã é nada mana. Vá, assante-se já aqui.
Ti Flezberto - Bom, ê cá vôma vestir, mode acinder o forno.
(O Antóino da Carriça volta co raminho d'olevêra e sai pra levar o rabanho po pasto. A D. Jaquina cmeça a bizedura:)
D. Jaquina - Jasus q'é o santo nome de Jasus
e adonde tá o santo nome de Jasus
na entra mal ninum.
Santa Iria alevantou-se
vesti-se e calçou-se, caminou,
cum S. Pedro e S. Palo se incantrou
e precuraram-lhe:
- Àdonde vás tu, Iria?
- Vou-ma Jirusalém, binzer o filho da Virge Maria
do golpe de sol e de todo o mal que lá havia
se ê sei, melhor sabe o filho da Virge Maria
dos doze apóstelos
às três pessoas da Santíssma Trindade.
Se é servido tirar esta calma,
este golpe de sol, deste corpo amoroso
um tindal e nove dobras
e um copo de água fria,
im louvor de Dês e da Virge Maria,
um padre nosso e uma avé Maria.
(ficam um poucachinho im silênço)
Vaia-se a dêtar, mana.
Prante-se lá boa prá Festa e dêxe q'ê cá já venho tinder.
Vô-ma só prantar outres trapos.
E pranto. Pr'esta nôte tem à vonde. Mas fiquim amecêas dscansados que ê hê-d cá vir prantar o resto! Venham-se assomando e boas algraviadas!
Soando uma modinha antram im cena as felhóses, a balhar. Neste pouco, a Mari Benta alevanta-se mode ir tender, tráz o candiêro na mã e dá de ventas ca cena.
(A Mari Benta fica uma cousa sim reacção, insovacada, e na faz más qu'é a binzer-se e dzer brutidades)
Mari Benta - Padre Filh Esprit Sante!
Má ca raio vêim estes dous olhes ca terra m' hade quemer?
(Avinça umas passadas e pranta im baxo o candiêro)
- Ai, valha-me Santa Barba!
(Manêa a cabeça)
(Antretanto o bacalhéu que tava de molho desata im balhar más as felhóses)
- Padre Filh Esprit Sante!
Valha-me Santa... (E xfalece)
(Cantinua o balho e na hora im que ela xperta, entra tamém o pirum a balhar e dá-lhe de vaia. Ela, escagaçada, benze-se antra vez)
- Padre Filh Esprit Sante.
Iste foi sol qu'ê panhi.
Ai Santíssme Sacramento. (Maneando a cabeça)
(joga d'unhas ó candiêro e sai, fugindo a bradar)
- Mana Jaquina! Mano Flezberto!
(Tornam todes ós sês lugares, a modinha acaba e antra o Antóino da Carriça, que já na vinha só, e vai a caminho das felhóses, pega numa e assanta-se a dar ó dente. Neste pouco assoma-se à cátela o Ti Flezberto im saroulas, de caçadêra nas mãs, más a Jaquina im camisa de dromir e a Mari Benta)
Ti Flezberto - Com qu'intã a balhar? Unde é que tá o balho?
Na vêjo nenhumas felhoses...
(Alevanta-se o Antóino da Carriça, que fala darrepente e lhes mete medo, pôs na no tinham visto, manêras que o Felzberto aponta a arma dreto a ele)
Antóino da Carriça - Ê cá só tou cmend' uma.
Aiii home! Dsarrede pa lá esse inredo q'ê nã goste de xpingardas. Prantes. S'ê nã poss cmer, nã como. (E pranta a felhó im baxo)
Ti Flezberto - Ahh! É amecêa que tá aí.
Antóino da Carriça - Pôs, quim más havera de ser?
Mecêas tã todes aí...
D. Jaquina - Amecêa tá aí sozinho?
Antóino da Carriça - Ê nã. Tou com mecêas.
Atão mecêas na tã aqui más eu?
(A Mari Benta vai-se assomar às felhoses, mode ver se elas tã no sê sito, e tamém o pirum. A D. Jaquina vai-se assomar ó bacalhéu a ver se tá unde el'ó dixou)
Mari Benta - Ai home. Amecêa andou outra vez a buber.
Ti Flezberto - Sabe, é ca mana Benta alevantou-se pra vir tender e quando aqui chigou apresenta-se-lhe o pirum balhando más o bacalhéu...
Antóino da Carriça - Atão e balhou tamém, ó cmade Benta? (e arri-se)
Mari Benta - Ê lhe digo se balhi! Ó rai do home!
Atã na lhe digo que vi?
(E amostra a parte cunforme se passou, inquanto o Antóino da Carriça vai fazendo mesuras de xpantamento à medida da xtóira)
- Cunforme ê cá abro a porta, vêje as felhoses balhando aqui,
Despôs vem o bacalhéu e balha tamém e despôs... dê-me uma cousa, caí...
Béque-me foi práqui. (e aponta)
Cunforme m'alevanto, vêje vir o pirum drêto a mim,
com o cuzinho a dar-a-dar... Ai Jasus!
Abali bradando per amecês (achega-se à Jaquina)
Ai que medo qu'ê panhi, mana.
(O Antóino da Carriça tira uma felhó, olha im dreçã a eles e procura:)
- Esta tamém antrou no balho?
Dêxa lá ver se ela balha bem. (e palma-a)
Mari Benta - Ó home d'um cabresto, o ca bubida le faz ó miolo.
Antóino da Carriça - Ora, pôs atão. Ê cá é qu'andi bubendo e a cmade Benta é que vê balhes de piruns despenados más bacalhéus e felhóses...
D. Jaquina - Ó mana. Isso calhando foi sol q'amecê panhou.
Ó Antóino, vaia lá panhar um raminho d'olevêra, qu'é pra ê binzer a mana da calma.
Antóino da Carriça - Benzá logo tamém do má fitio.
Mari Benta - Que dêcho tá ele dzendo?
D. Jaquina - Nã é nada mana. Vá, assante-se já aqui.
Ti Flezberto - Bom, ê cá vôma vestir, mode acinder o forno.
(O Antóino da Carriça volta co raminho d'olevêra e sai pra levar o rabanho po pasto. A D. Jaquina cmeça a bizedura:)
D. Jaquina - Jasus q'é o santo nome de Jasus
e adonde tá o santo nome de Jasus
na entra mal ninum.
Santa Iria alevantou-se
vesti-se e calçou-se, caminou,
cum S. Pedro e S. Palo se incantrou
e precuraram-lhe:
- Àdonde vás tu, Iria?
- Vou-ma Jirusalém, binzer o filho da Virge Maria
do golpe de sol e de todo o mal que lá havia
se ê sei, melhor sabe o filho da Virge Maria
dos doze apóstelos
às três pessoas da Santíssma Trindade.
Se é servido tirar esta calma,
este golpe de sol, deste corpo amoroso
um tindal e nove dobras
e um copo de água fria,
im louvor de Dês e da Virge Maria,
um padre nosso e uma avé Maria.
(ficam um poucachinho im silênço)
Vaia-se a dêtar, mana.
Prante-se lá boa prá Festa e dêxe q'ê cá já venho tinder.
Vô-ma só prantar outres trapos.
E pranto. Pr'esta nôte tem à vonde. Mas fiquim amecêas dscansados que ê hê-d cá vir prantar o resto! Venham-se assomando e boas algraviadas!
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Adês pessoal!
Na sê se amecêas têm arrepairado mas ê cá já pranti más uns links no "Àdonde preguntar por algarviadas". Tendo ameceias vagar xmentem à assomarim-se lá, que tam lá cousas munto bim fêtas. Vou-me a ver se inda hoije, más pa despôs do solposto, ou calhando amanhão, consigo a prantar más um padacinho da xtóirinha do teatro de antredia.
Inté!
Na sê se amecêas têm arrepairado mas ê cá já pranti más uns links no "Àdonde preguntar por algarviadas". Tendo ameceias vagar xmentem à assomarim-se lá, que tam lá cousas munto bim fêtas. Vou-me a ver se inda hoije, más pa despôs do solposto, ou calhando amanhão, consigo a prantar más um padacinho da xtóirinha do teatro de antredia.
Inté!
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Suite Algarve
Uma lindessíssema obra do meu homóinemo Eurico Thomaz de Lima, calhando dos melhores cumpesitores de múizca im Portugal, do séclo XX. Dedicada ao nosse Algarve, co dixou incantado. É uma suite pa piano im oite quadres. Aspero que ves dê tant cunsolo come à mim!
Pa fcarem sabendo más um poucachinho assomem-se nestes links:
http://www.euricothomazdelima.musica.reitoria.uminho.pt/Panfletos/17dez07.pdf
http://www.euricothomazdelima.musica.reitoria.uminho.pt/Bibliografia/EURICO%20T%20DE%20LIMA%20biografia.pdf
Pa fcarem sabendo más um poucachinho assomem-se nestes links:
http://www.euricothomazdelima.musica.reitoria.uminho.pt/Panfletos/17dez07.pdf
http://www.euricothomazdelima.musica.reitoria.uminho.pt/Bibliografia/EURICO%20T%20DE%20LIMA%20biografia.pdf
domingo, 5 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Tiátaro Algravio
Esta parte que ê vos vou a contar é uma xtóirinha de tiátaro co Máiro do mê ATL xcreveu pa gente rapresentar na consoada, quand ê era moçqueno. Aquilo foi a cousa más linda qu'ê inda nã vi! A famila dê-lhe tanta festa às larachas qu'a gente dezia... Mostra que os messinhos levaram tento, mode fazerim uma cousa cum jêto. Aspero que ameceias tamém lhe achim planta, meme sim tarim a ver: faça contas que tejem lá! Atão é assim:
(Inquanto a D. Jaquina frita as felhóses)
D. Jaquina - Atão mana! Inda falta munto?
Mari Benta - Nã mana. Já tá bem sevadinha.
Vou-ma só fezer o senal mode ver se fica bem levedada.
(Faz o senal da cruz na massa, diz a oraçanita e tapa cum a manta. Vai-se
a lavar, jogando as mãs às ancas e dezendo:)
- Ai mana, tou cumas dores nas cadêras...
D. Jaquina - Ó mana, amecêa já na tem idade pr'amassar...
Vaia-se más é a dêtar um poucachinho...
Mari Benta - Nã mana. O sê Flezberto já deve tar i a chigar cu pirum pa xcaldar.
D. Jaquina - E a água já ferve.
(Antra o Ti Flezberto cu pirum)
Ti Flezberto - Ah bich dum cabresto! Csti a dá-lo panhado, ma já le curti o garganhol! Ó mana Benta, traga lá a vasilha da água, mode a gente xcaldar o bich.
D. Jaquina - Ó home de Dês! Atã na vê ca mana tá descadêrada cum tanto amassar? Xcalde lá ameceia o pirum e dêxe a mlher da mão. Tá ali o alguidar. Na me diga que na dá conta do serviço?
(O Ti Flezberto vai xcaldar o pirum. Na rua soa aí um checalhar. É o
Antóino da Carriça, o moiral, que chega ó solpestinho co rabanho e vai amalhar o gado.)
Antóino da C. - Haja saúde!
Olha, a cmade Benta tem o assantadoiro todo lavajado. Dêxe cá ver qu'ê sacudo!
D. Jaquina - Tenha tent home de Dês!
Mari Benta - Cmade Benta o rai co parta! Arrade ma é pa lá essas unhas! Vá sacudir o sê gado. Nunca home d'nhum ma prantou as mãs no assantadoiro.
Ti Flezberto - Na se marafem, que na mereça a pena...
(Intretanto o Antóino da Carriça dá cum as felhoses e pranta-se a jêto de lhes jgar d'unhas)
Antóino da C. - Ah, ca belas felhoses!
tã diradas doiradinhas...
tá-me mêm àpetecer
ferrar-lhes umas dintadinhas...
Mari Benta - Tir-me daí essas unhas incardidas!
Essas felhoses sã pa nonte do nacemento.
(O Antóino da Carriça dá-lhe pa destapar as panelas e assomar-lhes pra dentro, à pregunta de cêa)
Antóino da C. - Atão, qu'é da cêa? Tou cá cuma griza... Um home chega a casa despôs de tant andar por i, nessa chapada, corg'abacho corg'acima e nã tem triste cousa pa tarrincar?
Ti Flezberto - Ó home, vem desinsofride? Ê mête-le já aí um traçalho de panito cum prasunte!
D. Jaquina - Olhe, aí im cima da mensa tem tamém uma tjala cum zêtonas britadas.
(O Antóino da Carriça pega no pão, corta o prasunte e assanta-se à mensa a monfar)
Mari Benta - Bom, ê cá voma dêtar q'amanhão tenhe que m'alevantar cedo pa tender.
Ti Flezberto - Ê cá já dêxi a lenha no forno. Amanhão é só dar-lhe fogo.
Ó mana Benta, alumie lá a famila que já nã se vê nada.
Mari Benta - O candêrito tará pitrol? (Sanquelêja e diz:)
Inda têm uma manchinha. Ond'é qu'ê pranti os forfes? (Acende e diz:)
Boa nonte e até amanhão. Fiquim-se cum Dês.
Todos - Boa nonte descansada.
(A Mari Benta vai-se a dêtar e o resto da famila cuntinua nos sês afazeres, tramelando.)
D. Jaquina - Ó Antóino, quando é que chega o sê pessoal?
Antóino da C. - A minha Cesaltina já abalou da França antes d'ontem. Vem de carro. Som capaz de chigar amanhão despôs do mi-dia.
Ti Flezberto - Atão e o Toino Zé?
Antóino da C. - Ó... esses vieram de cu tremide. Impataram um porradão de notas de conte! Abalaram no avião pra manhã, aí pr'essas 9 e ó mi-dia já tavam im Lesboa.
D. Jaquina - Ê cuidava que a Alemanha era más longe.
Antóino da C. - E é. Inda é uma boa lonjura. No tempe im que eles usavam a vir de carro na faziam a cousa pre menos de dôs dias. Mas agora mostra que se aquestemarem ó avião e fazim isto im três tempes. Im menes de nada eles se prantam aqui.
Ti Flezberto - Já viste, Jaquina... Três horas levava a gente im ir até à vila mode ir ao mercade!
D. Jaquina - Olá! Munta vez fiz ê esse caminho no carro de besta do mê pai, que Dês o perdôi. Até a pé chegi ê a fezer esse blego.
Antóino da C. - Pôs, aquilo os tempes eram outos. Isto agora tá tude munte avinçado.
D. Jaquina - Pormêro foram as bsecletas a motor, despôs os altemóveles, despôs más os combóis e agora sã os avions.
Ti Flezberto - Até diz ca famila já vai à lua. Nã sê come, mas que vã, vão.
(A D. Jaquina acaba de fritar as felhoses e cmeça a arrumar as cousas más o cmer pró otre dia)
D. Jaquina - Ai! Na me cunvidem pra andar nessas vias, qu'ê na proso. É só meter na ideia que vou de viagem, inda nim tou a cavalo e parece-me já qu'almareio. E despôs, começa-me a dar umas ainsas, mas duma manêra que daí pre diante é só grumitar, grumitar, até na ter más no bucho pa ditar fora.
Antóino da C. - A nha Itelvina, que Dês tem, tamém na prosava nada. Mostra que é cousa que vai na pessoa, ou na sê...
(O Ti Flizberto acaba de arrinjar o pirum e dá de vaia à mulher:)
Ti Flezberto - Jaquina, o pirum já tá amanhado. Pranta-lhe agora tu o timpêro.
D. Jaquina - Ai, hoje já na le mexo. Tou derreada.
Vô-ma só a prantar o bacalhéu de molho e vô-ma ditar.
Antóino da C. - Ê cá inda vô-me até à venda, jgar uma bisca. (sai)
Até amanhão.
Ti Flezberto - Ê cá vou-me tamém a dêtar. Boa nôte e até amanhão.
D. Jaquina - Boa nôte descansada.
(A D. Jaquina, despôs de dixar tude arrimado, vai-se tamém a dêtar)
Aspero que ameceias tejem a gstar. Assim qu'ê tver jêto pranto aqui más um blego.
Inté, pessoal!
(Inquanto a D. Jaquina frita as felhóses)
D. Jaquina - Atão mana! Inda falta munto?
Mari Benta - Nã mana. Já tá bem sevadinha.
Vou-ma só fezer o senal mode ver se fica bem levedada.
(Faz o senal da cruz na massa, diz a oraçanita e tapa cum a manta. Vai-se
a lavar, jogando as mãs às ancas e dezendo:)
- Ai mana, tou cumas dores nas cadêras...
D. Jaquina - Ó mana, amecêa já na tem idade pr'amassar...
Vaia-se más é a dêtar um poucachinho...
Mari Benta - Nã mana. O sê Flezberto já deve tar i a chigar cu pirum pa xcaldar.
D. Jaquina - E a água já ferve.
(Antra o Ti Flezberto cu pirum)
Ti Flezberto - Ah bich dum cabresto! Csti a dá-lo panhado, ma já le curti o garganhol! Ó mana Benta, traga lá a vasilha da água, mode a gente xcaldar o bich.
D. Jaquina - Ó home de Dês! Atã na vê ca mana tá descadêrada cum tanto amassar? Xcalde lá ameceia o pirum e dêxe a mlher da mão. Tá ali o alguidar. Na me diga que na dá conta do serviço?
(O Ti Flezberto vai xcaldar o pirum. Na rua soa aí um checalhar. É o
Antóino da Carriça, o moiral, que chega ó solpestinho co rabanho e vai amalhar o gado.)
Antóino da C. - Haja saúde!
Olha, a cmade Benta tem o assantadoiro todo lavajado. Dêxe cá ver qu'ê sacudo!
D. Jaquina - Tenha tent home de Dês!
Mari Benta - Cmade Benta o rai co parta! Arrade ma é pa lá essas unhas! Vá sacudir o sê gado. Nunca home d'nhum ma prantou as mãs no assantadoiro.
Ti Flezberto - Na se marafem, que na mereça a pena...
(Intretanto o Antóino da Carriça dá cum as felhoses e pranta-se a jêto de lhes jgar d'unhas)
Antóino da C. - Ah, ca belas felhoses!
tã diradas doiradinhas...
tá-me mêm àpetecer
ferrar-lhes umas dintadinhas...
Mari Benta - Tir-me daí essas unhas incardidas!
Essas felhoses sã pa nonte do nacemento.
(O Antóino da Carriça dá-lhe pa destapar as panelas e assomar-lhes pra dentro, à pregunta de cêa)
Antóino da C. - Atão, qu'é da cêa? Tou cá cuma griza... Um home chega a casa despôs de tant andar por i, nessa chapada, corg'abacho corg'acima e nã tem triste cousa pa tarrincar?
Ti Flezberto - Ó home, vem desinsofride? Ê mête-le já aí um traçalho de panito cum prasunte!
D. Jaquina - Olhe, aí im cima da mensa tem tamém uma tjala cum zêtonas britadas.
(O Antóino da Carriça pega no pão, corta o prasunte e assanta-se à mensa a monfar)
Mari Benta - Bom, ê cá voma dêtar q'amanhão tenhe que m'alevantar cedo pa tender.
Ti Flezberto - Ê cá já dêxi a lenha no forno. Amanhão é só dar-lhe fogo.
Ó mana Benta, alumie lá a famila que já nã se vê nada.
Mari Benta - O candêrito tará pitrol? (Sanquelêja e diz:)
Inda têm uma manchinha. Ond'é qu'ê pranti os forfes? (Acende e diz:)
Boa nonte e até amanhão. Fiquim-se cum Dês.
Todos - Boa nonte descansada.
(A Mari Benta vai-se a dêtar e o resto da famila cuntinua nos sês afazeres, tramelando.)
D. Jaquina - Ó Antóino, quando é que chega o sê pessoal?
Antóino da C. - A minha Cesaltina já abalou da França antes d'ontem. Vem de carro. Som capaz de chigar amanhão despôs do mi-dia.
Ti Flezberto - Atão e o Toino Zé?
Antóino da C. - Ó... esses vieram de cu tremide. Impataram um porradão de notas de conte! Abalaram no avião pra manhã, aí pr'essas 9 e ó mi-dia já tavam im Lesboa.
D. Jaquina - Ê cuidava que a Alemanha era más longe.
Antóino da C. - E é. Inda é uma boa lonjura. No tempe im que eles usavam a vir de carro na faziam a cousa pre menos de dôs dias. Mas agora mostra que se aquestemarem ó avião e fazim isto im três tempes. Im menes de nada eles se prantam aqui.
Ti Flezberto - Já viste, Jaquina... Três horas levava a gente im ir até à vila mode ir ao mercade!
D. Jaquina - Olá! Munta vez fiz ê esse caminho no carro de besta do mê pai, que Dês o perdôi. Até a pé chegi ê a fezer esse blego.
Antóino da C. - Pôs, aquilo os tempes eram outos. Isto agora tá tude munte avinçado.
D. Jaquina - Pormêro foram as bsecletas a motor, despôs os altemóveles, despôs más os combóis e agora sã os avions.
Ti Flezberto - Até diz ca famila já vai à lua. Nã sê come, mas que vã, vão.
(A D. Jaquina acaba de fritar as felhoses e cmeça a arrumar as cousas más o cmer pró otre dia)
D. Jaquina - Ai! Na me cunvidem pra andar nessas vias, qu'ê na proso. É só meter na ideia que vou de viagem, inda nim tou a cavalo e parece-me já qu'almareio. E despôs, começa-me a dar umas ainsas, mas duma manêra que daí pre diante é só grumitar, grumitar, até na ter más no bucho pa ditar fora.
Antóino da C. - A nha Itelvina, que Dês tem, tamém na prosava nada. Mostra que é cousa que vai na pessoa, ou na sê...
(O Ti Flizberto acaba de arrinjar o pirum e dá de vaia à mulher:)
Ti Flezberto - Jaquina, o pirum já tá amanhado. Pranta-lhe agora tu o timpêro.
D. Jaquina - Ai, hoje já na le mexo. Tou derreada.
Vô-ma só a prantar o bacalhéu de molho e vô-ma ditar.
Antóino da C. - Ê cá inda vô-me até à venda, jgar uma bisca. (sai)
Até amanhão.
Ti Flezberto - Ê cá vou-me tamém a dêtar. Boa nôte e até amanhão.
D. Jaquina - Boa nôte descansada.
(A D. Jaquina, despôs de dixar tude arrimado, vai-se tamém a dêtar)
Aspero que ameceias tejem a gstar. Assim qu'ê tver jêto pranto aqui más um blego.
Inté, pessoal!
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Rock Algravio
Mode na dzerim que ê só pranto aqui corridinhos, agora amando cum rock, pa meceias se manearem todes! IRIS!!
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Transcrição Fonética
Excepcionalmente este artigo encontra-se escrito em português e não em algarvio, por razões que, espero, compreenderão.
Esta é uma pequena nota explicativa sobre algumas das opções de transcrição fonética que foram feitas neste blog. Em causa estão:
- A questão do "X";
- A não apostrofação;
- O uso da acentuação portuguesa.
Como é sabido, o algarvio não tem qualquer tradição escrita. É um dialecto que se formou, ao longo dos séculos, no contacto oral entre as gentes deste cantinho, no extremo sul do país. Separada do resto do território nacional por três espessas cadeias montanhosas, nesta região se desenvolveu e enraizou uma forma própria de falar, com uma tal especificidade e riqueza vocabular, que podemos falar de um verdadeiro dialecto e não de um mero sotaque. Infelizmente, a partir da segunda metade do século XX, fruto da aculturação de matriz oficial que teve lugar nas cidades maiores e, em geral por todo o litoral, a fala algarvia foi-se, nestas zonas, desvanecendo. No entanto, continua viva, e de uso corrente, um pouco por todo o barrocal e serra, de barlavento a sotavento, em especial entre as pessoas mais idosas.
Não tendo, dizia eu, esta "fala" (que significa também, expressivamente, "língua" em algarvio) tradicionalmente uma versão escrita, foi necessário encontrar uma forma de a literalizar.
Ora, no que ao mote desta nótula diz respeito, a sílaba "es" no início de uma palavra - como em "escola" - na fala algarvia passa ao som "ch", o qual, por simplificação (procurando evitar o excesso de consoantes) represento por "x". Assim, escrever-se-à, por exemplo, "xcola".
Já a opção pela não apostrofação tem a sua explicação numa atitude de emancipação: o algarvio não deve ter vergonha de afirmar aquilo que é. Como tal, as palavras que encurtou (ou suprimiu), bem como as sílabas que decaíram dos seus étimos não têm que ser substituídas por apóstrofes - sinal de preconceito e submissão face à língua portuguesa, da qual o algarvio deriva em grande parte (mas não só!). É preciso deixar claro que o algarvio tem uma dignidade que lhe é própria: não é uma forma inferior ou menos correcta de falar o português, que se deva apoiar nas muletas, que são os apóstrofes, para não cair.
Esta última observação talvez entre um pouco em contradição com a terceira opção de transcrição de que decidi hoje falar. Trata-se do uso da acentuação portuguesa.
A verdade é que preferível seria se o algarvio não precisasse de ser acentuado. Simplesmente a leitura seguiria a convenção de oralidade vigente, da qual é sucedânea. No entanto, esta solução apresenta duas grandes desvantagens: em primeiro lugar,não permitiria a quem não tem contacto oral com o dialecto tomar precepção (ainda que superficial) com a sua riqueza melódica e, em segundo lugar, constituiria um obstáculo à sua preservação, na medida em que tornaria mais difícil reconstituir a sua forma falada a partir do escrito.
Peço desculpa por me ter alongado um pouco nestes esclarecimentos, mas pareceu-me correcto para com o leitor expressar o porquê de algumas escolhas que, não o nego, não serão unânimes e que podem mesmo ser, porventura, algo polémicas.
Esta é uma pequena nota explicativa sobre algumas das opções de transcrição fonética que foram feitas neste blog. Em causa estão:
- A questão do "X";
- A não apostrofação;
- O uso da acentuação portuguesa.
Como é sabido, o algarvio não tem qualquer tradição escrita. É um dialecto que se formou, ao longo dos séculos, no contacto oral entre as gentes deste cantinho, no extremo sul do país. Separada do resto do território nacional por três espessas cadeias montanhosas, nesta região se desenvolveu e enraizou uma forma própria de falar, com uma tal especificidade e riqueza vocabular, que podemos falar de um verdadeiro dialecto e não de um mero sotaque. Infelizmente, a partir da segunda metade do século XX, fruto da aculturação de matriz oficial que teve lugar nas cidades maiores e, em geral por todo o litoral, a fala algarvia foi-se, nestas zonas, desvanecendo. No entanto, continua viva, e de uso corrente, um pouco por todo o barrocal e serra, de barlavento a sotavento, em especial entre as pessoas mais idosas.
Não tendo, dizia eu, esta "fala" (que significa também, expressivamente, "língua" em algarvio) tradicionalmente uma versão escrita, foi necessário encontrar uma forma de a literalizar.
Ora, no que ao mote desta nótula diz respeito, a sílaba "es" no início de uma palavra - como em "escola" - na fala algarvia passa ao som "ch", o qual, por simplificação (procurando evitar o excesso de consoantes) represento por "x". Assim, escrever-se-à, por exemplo, "xcola".
Já a opção pela não apostrofação tem a sua explicação numa atitude de emancipação: o algarvio não deve ter vergonha de afirmar aquilo que é. Como tal, as palavras que encurtou (ou suprimiu), bem como as sílabas que decaíram dos seus étimos não têm que ser substituídas por apóstrofes - sinal de preconceito e submissão face à língua portuguesa, da qual o algarvio deriva em grande parte (mas não só!). É preciso deixar claro que o algarvio tem uma dignidade que lhe é própria: não é uma forma inferior ou menos correcta de falar o português, que se deva apoiar nas muletas, que são os apóstrofes, para não cair.
Esta última observação talvez entre um pouco em contradição com a terceira opção de transcrição de que decidi hoje falar. Trata-se do uso da acentuação portuguesa.
A verdade é que preferível seria se o algarvio não precisasse de ser acentuado. Simplesmente a leitura seguiria a convenção de oralidade vigente, da qual é sucedânea. No entanto, esta solução apresenta duas grandes desvantagens: em primeiro lugar,não permitiria a quem não tem contacto oral com o dialecto tomar precepção (ainda que superficial) com a sua riqueza melódica e, em segundo lugar, constituiria um obstáculo à sua preservação, na medida em que tornaria mais difícil reconstituir a sua forma falada a partir do escrito.
Peço desculpa por me ter alongado um pouco nestes esclarecimentos, mas pareceu-me correcto para com o leitor expressar o porquê de algumas escolhas que, não o nego, não serão unânimes e que podem mesmo ser, porventura, algo polémicas.
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