quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Gadanêro

Esta nôte, ò assomar-me no blog do mê Pressor Amadê Frrêra, o "cumo quien bai de camino", im mirandês, vê-me à ideia quemeçar a tradezir peças más gradas. E pegui logue nesta pousia do Alberto Caêro, qu'amecêas bem quenhecim. Sã uns versos munte bem tirados. Vams lá a ver s'ê tou capaz de dar conta do recado!

O Gadanêro XXXIV

Ache tã natural que nã se pinse
Que ma pranto a rir parte das vezes, sozinho,
Na si bem de quê, mas é de quajquer cousa
Que tim à ver cum haver famila que pinsa...

Que cuidará o mê valado da nha ássombra?
Procuro-me parte das vezes isto inté dar per mim
A procurar-me cousas...
E atão desengraço-me, inquemode-me
Come se me panhásse cum pé cum formeguêro...

Que cuidará isto daquilo?
Nada pinsa im nada.
Tará a terra cunscênça dos bajoles e plantas que tem?
Se ela tever, ca tenha...
Qu'é que m'amporta isse à mim?
S'ê fosse a pinsar nessas cousas,
Dixava de ver as árves más as plantas
E dixava de ver a Terra,
Mode ver só os mês pinsamentes...
Jmorcia e fcava à dscuras.
De manêras que, sim pinsar, tenhe a Terra más o Céu.


[Im pretuguês

O Guardador de Rebanhos XXXIV

Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa…

Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas…
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente…

Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa em nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela tiver, que tenha…
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixava de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos…
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.
-Alberto Caeiro]

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